Universidade promove ações voltadas para a conservação de animais silvestres
A Universidade Federal do Piauí (UFPI) além de formar diplomados nas mais diversas áreas de conhecimento, também é um espaço que desenvolve pesquisas e investigação científica para a preservação ambiental. Englobando ações de sustentabilidade social, ambiental e econômica, visando a proteção e conservação dos recursos naturais, a Instituição busca integrar esses princípios em suas atividades acadêmicas. A conservação de animais silvestres é uma das segmentações que a UFPI engaja para contribuir na conservação da fauna local.
O esforço em assegurar a vida destas espécies e sua reprodução é uma forma combativa contra a ação humana de séculos que vem afetando a fauna silvestres. Ações como a caça predatória, o tráfico de animais, destruição de habitats, poluição, mudanças climáticas e novas doenças, muitas espécies estão ameaçadas de extinção ou já desapareceram. Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), existem mais de 28 mil espécies em risco de extinção no mundo, representando cerca de 27% de todas as espécies avaliadas.
Com intuito de cuidar e preservar a fauna silvestre, o Núcleo de Estudos, Produção e Preservação de Animais Silvestres (NEPPAS) é um centro de pesquisa da UFPI que se destaca neste papel. O NEPPAS surgiu no final da década de 1990, com o objetivo de desenvolver pesquisas científicas voltadas para animais silvestres. Na época, esses animais eram pouco estudados, apesar de apresentarem grande potencial zootécnico e também serem considerados importantes modelos experimentais para outras espécies. Assim, o NEPPAS foi criado como uma iniciativa para aprofundar o estudo dessas espécies, contribuindo significativamente para a produção de conhecimento técnico e científico sobre sua criação, manejo e preservação. Desde então, o núcleo desempenha um papel essencial na geração de informações que apoiam tanto a conservação quanto o uso sustentável da fauna silvestre.
Atualmente, o núcleo cria espécies como cutias, catetos e emas, visando gerar conhecimento técnico-científico sobre o manejo desses animais, tanto em cativeiro quanto em vida livre. O NEPPAS proporciona uma abordagem prática e fundamentada, permitindo que estudantes, pesquisadores e profissionais tenham contato direto com a realidade do manejo e da conservação de fauna silvestre.
Professora Maíra Soares Ferraz
A coordenadora do NEPPAS, Maíra Soares Ferraz, conta que o núcleo realiza diversos projetos de extensão voltados para o público externo da Universidade, além de pesquisas com os animais silvestres.
“Além do ensino, a UFPI realiza, por meio do NEPPAS, projetos de extensão voltados à comunidade externa, com ações educativas sobre a fauna silvestre, bem como atividades práticas de manejo e atendimento clínico a esses animais. Essas iniciativas promovem a conscientização ambiental da população e prestam serviços à sociedade, ao mesmo tempo, em que oferecem experiência prática aos discentes. No NEPPAS também são desenvolvidas pesquisas científicas com foco nos animais silvestres, abordando temas como saúde, comportamento, conservação e impactos ambientais, reforçando seu compromisso com a preservação da biodiversidade e a formação de profissionais capacitados para atuar de forma ética e responsável nessa área”, explica.
O projeto funciona como uma unidade de ensino, pesquisa e extensão vinculada à Diretoria do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal do Piauí (UFPI), com atividades certificadas pelo IBAMA (registro nº 02/08–618). Seu funcionamento envolve a integração de docentes, servidores técnico-administrativos e discentes dos cursos das Ciências Agrárias, Ambientais, Biológicas, Sociais e da Saúde, além de parcerias com instituições públicas e privadas, com o objetivo de promover a conservação da fauna silvestre.
A professora Maíra Ferraz ressalta que o núcleo atua com atividades de ensino, pesquisa e extensão dos animais silvestres e contribuindo para soltura destes animais na natureza.
“O NEPPAS contribui diretamente para a preservação de animais silvestres por meio de ações voltadas à conservação, saúde, bem-estar e aprimoramento do manejo dessas espécies. Atua também no apoio a atividades de ensino, pesquisa e extensão, produzindo e compartilhando conhecimento técnico no Brasil e no exterior. Além disso, recebe visitas técnicas de escolas de ensino fundamental, médio, técnico e de instituições de ensino superior, promovendo a conscientização ambiental e ampliando o acesso à informação sobre a importância da conservação da fauna silvestre. Sua estrutura física abriga cutias, catetos e emas, criadas com o objetivo de estudar e desenvolver técnicas de manejo em cativeiro e em vida livre. Através desse trabalho, o núcleo já contribuiu efetivamente para a reintrodução de cutias e catetos na natureza, promovendo a recuperação e o equilíbrio de populações silvestres em áreas naturais”, conta.
O NEPPAS ainda proporciona uma formação completa e integrada, envolvendo alunos de diferentes níveis acadêmicos nas atividades práticas, científicas e de conservação, fortalecendo o compromisso da UFPI com a preservação da biodiversidade e com a qualificação de profissionais para atuar na área de animais silvestres.
Maíra fala que graduandos e pós-graduandos são inseridos nas atividades e nas pesquisas desenvolvidas pelo núcleo, permitindo a prática e o aprofundamento de conhecimentos.
“Na graduação, os estudantes podem participar por meio de projetos de pesquisa desenvolvidos por docentes, estágios curriculares e também através da participação em projetos e programas de extensão vinculados ao núcleo. Essas atividades permitem que os alunos tenham contato direto com o manejo de animais silvestres, contribuam com os cuidados diários, participem de atendimentos clínicos e acompanhem processos de reabilitação e soltura de animais na natureza. Essa vivência prática é essencial para a formação acadêmica e técnica dos estudantes, promovendo o desenvolvimento de habilidades específicas na área da conservação da fauna. Já os alunos da pós-graduação, em níveis de mestrado e doutorado, são inseridos nas atividades do NEPPAS por meio de pesquisas científicas desenvolvidas no núcleo, que abordam temas como saúde, comportamento, manejo e conservação de animais silvestres. Essa inserção permite que os pós-graduandos aprofundem seus estudos e contribuam para a produção de conhecimento técnico-científico de relevância nacional e internacional”, comenta.
Estudante de Medicina Veterinária, Matheus da Silva Santos
O estudante de Medicina Veterinária, Matheus da Silva Santos, é a prova da integração do núcleo com estudantes do curso de graduação. Matheus relata que desde que entrou na universidade está envolvido nas atividades do NEPPAS por seu entusiasmo pelos animais silvestres.
“Eu estou envolvido no NEPPAS desde o primeiro período em que entrei na veterinária, através do Grupo de Estudos de Animais Selvagens (GEAS-UFPI), a partir do momento em que entramos no grupo, é feita a apresentação do núcleo, pois o núcleo e o grupo de estudos estão intimamente ligados, pois é uma das nossas grandes fontes de pesquisa e avanço pensando na preservação, bem-estar animal e manejo adequado de animais silvestres em cativeiro. Eu sou apaixonado por animais silvestres e foi uma das grandes motivações para trabalhar nesse núcleo que tanto produz”, conta.
O núcleo desenvolve pesquisa com alunos a partir de trabalhos de Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), Iniciação Científica Voluntária (ICV) e Programa Institucional de Bolsas de Extensão (PIBEX), voltados para várias áreas da conservação dos animais silvestres.
Matheus pontua que a vivência no núcleo complementa o aprendizado em sala de aula, estimulando-o com conhecimentos que geralmente não são complementados pela grade curricular, além de ser um saber produzido pelo próprio centro de estudo.
“Sendo estudante do curso de Medicina Veterinária, não seguimos uma grade curricular que trabalha tanto o tema da conservação, legislação ambiental, entre outros temas envolvidos pensando em animais silvestres, como o curso da biologia, por exemplo, ou seja, o núcleo trabalhando com outros órgãos e o grupo de estudos, complementa uma lacuna muito grande que fica pensando na preservação e conservação da vida silvestre, levando bastante conscientização, atualização e conhecimento sobre temas que não costumam estar na nossa rotina acadêmica. Aprendemos assuntos como resgate de fauna, legislação ambiental, reabilitação e reintrodução da vida silvestre. E através do GEAS também são passadas essas informações em grupos de discussão, atividades práticas de enriquecimento ambiental, entre outras atividades que a diretoria sempre desenvolve com o núcleo”, destaca.
A Universidade também mantém, por meio da integração do NEPPAS com o Hospital Veterinário Universitário (HVU), um programa de aprimoramento profissional voltado a médicos veterinários que atuam na área de animais silvestres, fortalecendo a formação técnica e científica desses profissionais para atuação responsável e qualificada. Além da produção científica, é feito também manejo e atendimento clínico de animais silvestres e exóticos de diversas espécies. Essas ações também proporcionam formação prática para os estudantes da UFPI.
O HVU é referência no tratamento de animais não só no Piauí, mas também em toda a região Nordeste e funciona como hospital escola, onde, discentes dos cursos de graduação e pós-graduação utilizam as dependências do hospital como espaço para práticas acadêmico-científicas.
Diretor do HVU/UFPI, Marcelo Campos
O diretor do HVU, Marcelo Campos, comenta que a integração com o NEPPAS é relevante para a conservação da biodiversidade com o tratamento de animais silvestres.
“A integração HVU–NEPPAS é estratégico para a proteção da fauna, através da pesquisa, ensino e extensão, além da assistência veterinária, o que fortalece os esforços de conservar a biodiversidade e promover o bem-estar animal, contribuindo com soluções para os desafios regionais para o meio ambiente. O compromisso social que a UFPI representa, unindo a ciência ao ensino e à prática, além do corpo técnico altamente capacitado, a capacita em ser protagonista na conservação da fauna. Suas ações podem culminar de forma concreta na formação ética do cidadão, na proteção da biodiversidade e no modelamento de sustentabilidade ambiental para a região”, comenta.
A principal atividade do hospital é o atendimento clínico, cirúrgico e laboratorial de animais de companhia, de produção e silvestres, servindo como apoio ao ensino, à pesquisa e à extensão na Universidade Federal do Piauí. O HVU pretende ainda expandir o trabalho de atendimento a animais silvestres.
“Hoje contamos com o programa de aprimoramento em clínica, cirurgia e manejo de animais silvestres e exóticos, com dois profissionais e edital aberto para mais uma vaga e, já estamos trabalhando uma logística para, em breve, termos o programa de residência nessa mesma área”, finaliza Marcelo.
Com todas essas ações integradas, ensino, extensão, pesquisa e produção, a UFPI demonstra importante papel na conservação da fauna silvestre local.
Certificação ambiental
Campus da UFPI em Bom Jesus
Outra ação recente de conservação da fauna silvestre foi conciliado no Campus Professora Cinobelina Elvas da Universidade Federal do Piauí (CPCE/UFPI) que foi habilitado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) para atuar como Área de Soltura de Animais Silvestre (ASAS).
A Fazenda Experimental Alvorada do Gurguéia (FEAG), um órgão complementar e administrado pelo CPCE/UFPI, atestou as condições para atuar como uma ASAS por meio de vistoria técnica e inspeção do IBAMA. A FEAG possui uma área física de 351,36 hectares, com sede no município de Alvorada do Gurguéia, Estado do Piauí. Localizada às margens da Rodovia Federal BR 135, a fazenda possui atribuições de ensino, pesquisa e extensão, diretamente subordinada à Diretoria do CPCE/UFPI.
Diversos critérios técnicos, ecológicos, legais e institucionais foram considerados para que a UFPI, por meio da Fazenda Experimental Alvorada do Gurguéia, fosse reconhecida como apta a funcionar como uma Área de Soltura de Animais Silvestres. Os principais foram a preservação da vegetação nativa, dos recursos hídricos, e a presença de diversas espécies nativas do local zelar pela gestão do campus.